Vime

    O feitio de cestos, objetos e móveis utilizando o vime é realizado em algumas pequenas oficinas de artesãos que trançam essa e outras fibras, caracterizando uma forma de trabalho essencialmente manual e que guarda ricos saberes.

    Em Santa Felicidade, esse ofício ainda compõe o dia a dia de vários mestres, cada qual dedicado a produtos específicos. O documentário acompanhou o trabalho de alguns deles, entrevistando-os enquanto confeccionavam uma peça.

    Adarcísio Ferro (05/11/1944) aprendeu a trançar cestos com 14 anos de idade, junto à família de Natalino Tulio. Manteve-se trabalhando com cestos e depois móveis na fábrica dos Tulio entre 1959 e 1983. Depois tornou-se autônomo e, em 2011, abriu com o filho, Rodrigo, a Arte Finne, especializada em móveis e restauros trançados em fibra sintética. Darci, como é mais conhecido, guarda vívidas memórias dos tempos áureos do mobiliário em vime, entre as décadas de 1960 e 1980.

    Para a equipe do documentário, Darci trançou uma cadeira das mais tradicionais, com estrutura tubular de metal e a palha do vime (lascas da parte externa da fibra). Com grande habilidade manual e criatividade, ele também se arrisca em projetos rebuscados, como a trançaria com vimes bem finos em torno de um manequim.  Junto com o filho, mantém a fábrica em funcionamento no centro do bairro.


Busto trançado em vime fino. 
Trabalho do mestre trançador Darci Ferro. 
Foto: Otavio Zucon, 2018.


Artesão Darci Ferro em sua fábrica, 
Partindo o vime usando apenas os dedos. 
Foto: Otavio Zucon, 2018.


    Anselmo Ercole (Emo) é de uma família de trançadores de fibras. Nasceu em 1932 e aprendeu o ofício aos 14 anos de idade com um primo e também com outro cesteiro, Faustino Bosa (ainda vivo, porém não mais atuante como artesão). É um dos poucos que ainda produz os tradicionais cestos italianos e balaios de diversos tamanhos. Morador da região do Passaúna, que abrigava plantações de vime às margens do rio homônimo, ele se lembra da época em que a comunidade se reunia no inverno para podar, cozinhar e descascar o vime. Guarda memórias também do descasque do chamado “vime branco”, quando as varas não necessitam de cozimento, no início do ano. Aos 88 anos, continua na ativa.

    Localizamos o artesão às margens da av. Manoel Ribas, próximo de sua casa, quando aos sábados saía com sua Kombi cheia de cestos para venda. Durante as filmagens Anselmo trançou um cesto italiano em sua oficina e fez o caminho ao local de venda. 


Emo em sua oficina, junto aos cestos e varas de vime.
Foto: Geslline Braga, 2018.


Artesão Anselmo Ercole em sua oficina, trançando um cesto italiano.
Foto: Geslline Braga, 2018.


    Sebastião Back e sua esposa, Joana, são artesãos do vime desde XXX. Mantém o negócio da família tanto na produção dos mais diversos artefatos quanto na venda, na loja “Artesanato Barigui”, localizada na região do Cascatinha, na av. Manoel Ribas.

    Sebastião aprendeu o ofício com seu antigo genro, o artesão “Bepe” Francischini, cuja família produzia e comercializava objetos feitos com a fibra. Mais tarde casou-se com Joana, com quem divide até hoje as tarefas da trançaria. Ele faz questão de manter viva a atividade de colheita e beneficiamento do vime, com o manejo de uma pequena área no bairro da Ferraria, em Campo Largo-PR. Anualmente faz também o cozimento e descasque das varas, com uma técnica por ele inventada.


Sebastião Bach em sua fábrica, junto ao maquinário de beneficiamento de vime. 
Foto: Geslline Braga, 2018.


Processo de cozimento e descasque do vime. Fábrica Artesanato Barigui.
Foto: Geslline Braga, 2018.


    A família Tulio tem grande importância na consolidação do artesanato e dos móveis em vime em Santa Felicidade. Natalino Tulio (1905-1999) foi um dos mais importantes artesãos da antiga colônia, sendo agente formador de diversos aprendizes. Com os filhos, fundaram a fábrica de Móveis Tulio a maior da região. Armando, um dos filhos que dedicou-se ao ofício, é um ardoroso defensor do uso da fibra do vime, considerada por ele como um produto inclusive ecologicamente correto, pois não utiliza-se de nenhum tipo de produto químico em seu processamento.

    Ainda criança, na década de 1950, Armando foi uma espécie de guia das pesquisas da professora Altiva Pilatti Balhana pelo bairro. Como era coroinha na igreja, conhecia todas as famílias da região e auxiliava nos contatos e indicação de caminhos para a equipe da pesquisadora. Junto a sua família foi produzido um dos filmes que o cineasta Vladimir Kosák gravou à época. Armando, grande detentor de memória e um historiador da antiga colônia, lembra-se vivamente daquela experiência.

    A família Tulio, durante décadas, fez todo processo de beneficiamento e artesanato com o vime. Um dos locais de extração da fibra era as margens do rio Passaúna, em terreno pertencente à família Culpi.

    Entrevistamos Armando em seu escritório, localizado no terreno que abrigou a fábrica de móveis da família. Lá, ele relatou memórias e assistiu aos filmes de época. Entregou-nos também um rolo de película cinematográfica 8mm, em preto-e-branco, com registros de uma das primeiras festas da uva do bairro, em 1965, entre outros registros de grande valor histórico. (VER ABA “FILMES DE ARQUIVO”)

Armando Tulio em entrevista para o documentário Itálicos.
Foto: Otavio Zucon, 2018.


Jovens da família Tulio extraindo as varas de vime em plantação às margens do rio Passaúna. Frame do filme “Cestaria”, de Vladimir Kosák. Foto: acervo Fundação Cultural de Curitiba/Casa da Memória, 1956.


    Cesar Costa é artesão desde o início da juventude. Tem sua fábrica localizada na região do Cascatinha, onde atualmente desenvolve principalmente pequenos cestos em fibra sintética para usos diversos. A família Costa é uma das tradicionais fabricantes de cestaria trançada. Para o trançado em fibras sintéticas, Cesar desenvolve também os moldes, necessários para o artesanato com esse tipo de material, mais mole que a fibra de vime.

    A pedido dos pesquisadores, ele trançou a “casquinha” do vime em torno de um garrafão de vinho, uma das primeiras atividades que um aprendiz desenvolvia, atividade em desuso depois do surgimento dos plásticos que atualmente envolvem os garrafões. 

Cesar Costa confeccionando cesto para ovos de páscoa. 
Foto: Otavio Zucon, 2018. 


Detalhe de pequenos cestos em material sintético feitos na fábrica de Cesar Costa. Uma das marcas desse artesão são os acabamentos com fibra branca.